Thinkers

blog de uma rapariga sem estilo

17.6.10

See you on the other side, my friend

Até um dia :')


11.5.10

Going back


a sua alma é espirituosa. o peito vibra-lhe de emoção e esquece tudo o que não é pertinente lembrar no momento. é um ser egoísta, mas não consegue evitá-lo.

indagou, à beira das lágrimas que se acumulavam quentes e incomodativas no parapeito do seu olho, o porquê de não se lembrar de quem nunca se esquece de si. pediu a quem a quisesse ouvir que assim deixasse de ser.

lembrou-se no dia seguinte. e no outro. agradeceu - o seu lado egoísta estava a morrer (ou seria o seu lado optimista?)

antigamente, ela não se preocupava - não encontrava razões que justificassem a preocupação da sua alma, não encontrava razões suficientes para unir o seu espírito a outro tão descrente e abatido. em vez disso, sorria. sorria como sempre faz; sorria e a sua boca proferia um chorrilho de palavras sem sentido, sem nexo, idiotas. aquelas palavras felizes e tontas que as pessoas que não se preocupam proferem.

hoje, ela chorou. afinal, deixou de ser permanentemente a personificação do egoísmo que todos os que a rodeavam estavam votados a servir.

hoje, preocupou-se e não gostou.


se calhar,
quem sempre a viu de sorriso nos lábios e sem vincos entre os sobrolhos,
quem sempre a viu trajar o seu espírito leve,
quem sempre a viu passear o seu egoísmo inocente, de quem pensa tratar-se do Sol, na teoria heliocêntrica da sua vida,

se calhar, quem sempre a viu ser quem sempre foi, prefere o antigamente.
se calhar, a ruga que lhe marca o espaço entre as sobrancelhas não assenta o seu rosto jovial.
se calhar, os sorrisos e a crença de que vai ficar tudo bem, caiam-lhe melhor no corpo franzino.
se calhar, era o seu egoísmo que alentava o desânimo.



hoje, preocupa-se e não gosta.

hoje, o optimismo genuíno vestiu-se de falso.
está descrente, mas não mostra. já não é egoísta, mas hipócrita.


quero voltar a ontem.
quero ser egoísta e sentir que vai ficar tudo bem.
quero poder sentir optimismo verdadeiro a correr-me nas veias.

se calhar, cresci de um dia para o outro.
gostava mais quando era criança.


 
505 é a sua infância.

ao volante, precorre a auto-estrada em sentido inverso.
afinal, são só 45 minutos a guiar.

back to my selfish ignorance




22.3.10

Spring

rasgando a barreira vítrea do cinzento Inverno, entrou a vasta e colorida palete de açucenas vibrantes.
num ápice, o mundo tornou-se e transformou-se em esvoaçantes borboletas que cansaram de ser larvas; tornou verdes os prados que outrora se estendiam sem vida, inertes.



Primavera,

és magia que traz à tona a faceta mais vibrante e sedutora de cada objecto, de cada coração pulsante ou de cada seiva suculenta.
és carta aberta aos sentimentos que se alojam debaixo do nariz, metamorfizando-se em pólen e que fazem dos olhos fontes intermináveis.
és nascente de água límpida que em cada jorro cristalino leva e faz pulsar um coração apaixonado.
és o vestido leve que visto naquele almoço no Monte, quando me deito sobre a relva fresca, cobrindo o rosto de pequenas gotículas do orvalho ainda presente.
és a cereja suculenta que trinco prasenteiramente e és o sumo de morango que limpo do queixo com as costas da mão.

...

e do Teu pequeno chapéu de palha, cuja fita vermelha te enaltece as virtudes, brota a Vida, onde escorrego sem fim e onde me perco ao tentar encaixar-me numa das tuas muitas maravilhas.

Primavera, és Perfeição Utópica e eu corro para Ti, sem nunca te alcançar.



["Para mim só um grande, um profundo,/E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,/Um supremíssimo cansaço./Íssimo, íssimo. íssimo,/Cansaço" (Álvaro de Campos)]

24.2.10

Strawberry Cheesecake

e quando ela começa a erguer os muros destruídos da sua cidadela, o chão treme, a estrada rui e o céu cai. num ápice temporal não existe nada mais que o negro bréu, o vácuo onde qualquer som se sente impedido de se propagar, e os seus olhos de menina, as suas esmeraldas líquidas, toldam-se por um véu que nunca se viu chegar.
ela senta-se no lugar onde não há chão, anseia desesperadamente pelo ar que não chega e procura consolo no vazio, de onde dificilmente chegará.
está repisada. os olhos secos que prometeram não chorar, não são justos com o seu peito sem ar. continuam secos, apesar de todo o sufoco.
ela morre.
eu olho-a de cima. sofro por ela e sofro com ela. as naúseas invadem o meu estômago, mas continuo a vê-la de cima e combato o desejo de me unir a ela, de ser ela.

queima-a. consome-a. corrói-lhe o sorriso. e eu não vou ser assim.
não me vou tornar no papel queimado e sem vida que ela é, nem me vou deixar envolver no seu tição.

por mais que queira... por mais que queira cair no seu masoquismo prasenteiro, no prazer da sua dor que a deixa vazia... por mais que se afigure como o caminho mais fácil, não vergarei os joelhos que me sustentam.


[se todos os momentos se assemelhassem a isto, o Mundo seria um lugar melhor.]

31.1.10

I'm gonna walk all over you

meu Amor,

posso afirmar, certamente, sem enrolar a língua e sem gaguejos, sem tremer os joelhos e sem me suarem as mãos, que, em tempos, me perdi por ti. e foi bom.
foi bom perder-me por ti e foi bom perder-me em ti.
lembras-te quando nos sentavamos de mãos dadas e fitavamos o horizonte que se estendia, à nossa frente, como um Futuro distante?
lembras-te quando, inocentemente, as nossas línguas dançavam? quando o meu nariz descansava no teu pescoço, inspirando em pequenas baforadas, na tentativa vã de não me inebriar? mas o nosso Amor era ébrio, nada poderia fazer.
eu lembro cada momento. e duvido da veracidade de cada recordação.


sabes?
doeu quando Te foste. quando parte de Ti morreu. quando olhei para Ti enão te conheci.
hoje, encostado à parede que é o teu Agora, fita-me, de sorriso nos lábios, o teu olhar jocoso. o cigarro baila-te nos lábios num dança sensual onde, desta vez, não me vou perder.

assim me despeço de Ti.
assim renuncio ao teu Amor.

meu Amor,
hoje decido nunca mais te amar.

(Fim do Acto Primeiro. Curtains Fall)

Clap, Clap

9.1.10

Sailboat

meu Amor,



se ambos fôssemos um barco à vela, rumaríamos em direcção ao Norte, procurando o firmamento da Estrela. entenderíamos, Amor, que navegando em águas paradas ou tumultosas, geladas ou amenas, os nossos remos seriam sempre meras testemunhas da Sua presença.
um dia, fartarmo-nos-emos, certamente, de remar, e rumar ao Norte não fará parte dos nossos planos. nesse dia, deixamos de ser um barco à vela: seremos tábuas e remos separados e chegaremos ao Sul, onde o brilho da Estrela e a sua luz não nos serão oferecidos de presente todos os dias.
eventualmente, daremos à costa. as tábuas de que somos feitos estarão partidas em mil bocados, separadas pela força das águas. perdidas. adormeceremos para não sentirmos dor e esperaremos que, milagrosamente, o Tempo repare as madeiras, que já estarão secas, pois já purgaram a água que as fazia inchar. e, um dia, seremos jangada, até que outra encontremos e voltemos a ser um veleiro.

(meu Amor, meu Amor, meu Amor,

quantas vezes não te disse eu "amo-te", sem, no entanto, verbalizar? - se não verbalizava, como poderias, Tu, ouvir?
quantas vezes parafraseei apenas para disfarçar o medo que sentia de Te amar?)


se, quando for jangada, me lembrar dos nossos trilhos rasgados no mar, em direcção ao Norte, será porque estou incompleta. será porque não deixei de ser barco à vela contigo, embora tenhas deixado de o ser comigo. será porque as duas metades da laranja de que é feita a Terra, não serão vistas por nós de igual forma, e para mim o Equador estará tão mais longe do que para Ti.

engolirei mais água, incharei cada madeira da minha jangada e esperarei que o seu último poro deixe de borbulhar, e afundarei. e afundar-te-ei comigo. renascerei.

meu Amor, não querendo maçar-te, deixa-me apenas dizer-te:

lembro-me de cada trilho rasgado no mar e de cada fenda aberta no nosso barco à vela, sorrindo em busca da Estrela. lembro-me de cada aventura. lembro-me da água salgada a envolver-nos como a um todo. lembro-me de Ti e de mim e de não saber que éramos dois. e lembro-me de não saber que éramos um, até descobrir que estava sozinha.

ainda assim,

teremos sempre a Estrela do Norte.


8.1.10

prefácio - o outro lado da batata

a batata é leve. a batata é divertida. a batata escreve com uma estética aprendida. estudada. eu não.
costumo dizer que de mim faço três: a batata, que é a melhor de todas; a criança, que por vezes chega a ser irritante; a pessoa normal, capaz de ter conversas normais e sérias.
sempre quis ter um blog assim. daqueles que incitam ao sono e que tenho que editar vezes sem conta, porque a batata vem ao de cima. sempre.
às vezes não escrevo tudo o que quero. a batata não permite, não percebe, é completa e totalmente impenetrável ao lamechas, ao sério.

este blog não vai ser sobre mim, necessariamente. não vai ser sobre o que estou a sentir, necessariamente. podia chamar-se "coisas bonitas escritas pela Maria". mas corria o risco de nunca escrever uma coisa bonita. incitaria à revolta, claro está.
um dia disse: vou fazer um blog de heterónimos. arranjarei personalidades diferentes e atribir-lhes-ei um nome. acabei de constatar de que não preciso de procurar muito longe. ja sou feita de personalidades diferentes, de máscaras. todos somos.

este blog servirá como um escape à liberdade criativa. e até vou poder fazer posts só com uma imagem, como está na moda. e vou poder não usar maiúsculas como está na moda. como todos os indies fazem, por essa blogosfera fora. não ficamos todos com uma pontada de inveja a olhar para eles? têm tanto estilo que até dói.

well, mas eu não sou uma indie girl. i just have to handle it.



shall we step aside from reality?