Thinkers

blog de uma rapariga sem estilo

31.1.10

I'm gonna walk all over you

meu Amor,

posso afirmar, certamente, sem enrolar a língua e sem gaguejos, sem tremer os joelhos e sem me suarem as mãos, que, em tempos, me perdi por ti. e foi bom.
foi bom perder-me por ti e foi bom perder-me em ti.
lembras-te quando nos sentavamos de mãos dadas e fitavamos o horizonte que se estendia, à nossa frente, como um Futuro distante?
lembras-te quando, inocentemente, as nossas línguas dançavam? quando o meu nariz descansava no teu pescoço, inspirando em pequenas baforadas, na tentativa vã de não me inebriar? mas o nosso Amor era ébrio, nada poderia fazer.
eu lembro cada momento. e duvido da veracidade de cada recordação.


sabes?
doeu quando Te foste. quando parte de Ti morreu. quando olhei para Ti enão te conheci.
hoje, encostado à parede que é o teu Agora, fita-me, de sorriso nos lábios, o teu olhar jocoso. o cigarro baila-te nos lábios num dança sensual onde, desta vez, não me vou perder.

assim me despeço de Ti.
assim renuncio ao teu Amor.

meu Amor,
hoje decido nunca mais te amar.

(Fim do Acto Primeiro. Curtains Fall)

Clap, Clap

9.1.10

Sailboat

meu Amor,



se ambos fôssemos um barco à vela, rumaríamos em direcção ao Norte, procurando o firmamento da Estrela. entenderíamos, Amor, que navegando em águas paradas ou tumultosas, geladas ou amenas, os nossos remos seriam sempre meras testemunhas da Sua presença.
um dia, fartarmo-nos-emos, certamente, de remar, e rumar ao Norte não fará parte dos nossos planos. nesse dia, deixamos de ser um barco à vela: seremos tábuas e remos separados e chegaremos ao Sul, onde o brilho da Estrela e a sua luz não nos serão oferecidos de presente todos os dias.
eventualmente, daremos à costa. as tábuas de que somos feitos estarão partidas em mil bocados, separadas pela força das águas. perdidas. adormeceremos para não sentirmos dor e esperaremos que, milagrosamente, o Tempo repare as madeiras, que já estarão secas, pois já purgaram a água que as fazia inchar. e, um dia, seremos jangada, até que outra encontremos e voltemos a ser um veleiro.

(meu Amor, meu Amor, meu Amor,

quantas vezes não te disse eu "amo-te", sem, no entanto, verbalizar? - se não verbalizava, como poderias, Tu, ouvir?
quantas vezes parafraseei apenas para disfarçar o medo que sentia de Te amar?)


se, quando for jangada, me lembrar dos nossos trilhos rasgados no mar, em direcção ao Norte, será porque estou incompleta. será porque não deixei de ser barco à vela contigo, embora tenhas deixado de o ser comigo. será porque as duas metades da laranja de que é feita a Terra, não serão vistas por nós de igual forma, e para mim o Equador estará tão mais longe do que para Ti.

engolirei mais água, incharei cada madeira da minha jangada e esperarei que o seu último poro deixe de borbulhar, e afundarei. e afundar-te-ei comigo. renascerei.

meu Amor, não querendo maçar-te, deixa-me apenas dizer-te:

lembro-me de cada trilho rasgado no mar e de cada fenda aberta no nosso barco à vela, sorrindo em busca da Estrela. lembro-me de cada aventura. lembro-me da água salgada a envolver-nos como a um todo. lembro-me de Ti e de mim e de não saber que éramos dois. e lembro-me de não saber que éramos um, até descobrir que estava sozinha.

ainda assim,

teremos sempre a Estrela do Norte.


8.1.10

prefácio - o outro lado da batata

a batata é leve. a batata é divertida. a batata escreve com uma estética aprendida. estudada. eu não.
costumo dizer que de mim faço três: a batata, que é a melhor de todas; a criança, que por vezes chega a ser irritante; a pessoa normal, capaz de ter conversas normais e sérias.
sempre quis ter um blog assim. daqueles que incitam ao sono e que tenho que editar vezes sem conta, porque a batata vem ao de cima. sempre.
às vezes não escrevo tudo o que quero. a batata não permite, não percebe, é completa e totalmente impenetrável ao lamechas, ao sério.

este blog não vai ser sobre mim, necessariamente. não vai ser sobre o que estou a sentir, necessariamente. podia chamar-se "coisas bonitas escritas pela Maria". mas corria o risco de nunca escrever uma coisa bonita. incitaria à revolta, claro está.
um dia disse: vou fazer um blog de heterónimos. arranjarei personalidades diferentes e atribir-lhes-ei um nome. acabei de constatar de que não preciso de procurar muito longe. ja sou feita de personalidades diferentes, de máscaras. todos somos.

este blog servirá como um escape à liberdade criativa. e até vou poder fazer posts só com uma imagem, como está na moda. e vou poder não usar maiúsculas como está na moda. como todos os indies fazem, por essa blogosfera fora. não ficamos todos com uma pontada de inveja a olhar para eles? têm tanto estilo que até dói.

well, mas eu não sou uma indie girl. i just have to handle it.



shall we step aside from reality?